quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Olhei.


Mas antes disso ouvi. O tilintar daquele prato azul e transparente de marinex colidiu com o piso férreo, frio, cor de tijolo. Ele girou algumas vezes, rodopiando da vertical à horizontal, arranhando o chão até parar. Como não quebrou, não sabia. Após o barulho oco de sua aterrissagem, o único som era o eco do silêncio, enquanto no escuro minha cabeça ainda reproduzia parte do som. Geralmente, quando você faz uma besteira, sua mente tende a fincar as garras daquele momento nas paredes do seu crânio. Como quando você diz uma coisa idiota num tom mais alto do que planejava e todos escutaram. Idiota-ota-ota. Idiota!

Dormir para mim não era uma tarefa fácil. Eu já havia me proibido de ouvir música após as 10 da noite. Do contrário, meus neurônios meio que entravam em combustão... E as idéias fluíam além da conta. E, claro, a insônia era mero efeito colateral. Mas hoje, sem musica, eram quase 2 horas do dia seguinte e nada. Nada de sono, nada de olhos pesados. Apenas aquela irritante sensação de incômodo, de que algo estava muito, muito errado, e eu não sabia o que era. E o silêncio após eu esbarrar no prato era sólido, podia-se cortá-lo como manteiga. Na verdade, mais do que manteiga; era quase uma parede de vidro me assolando do mundo, e eu fiquei tão irritada por um segundo que se encontrasse verdadeiras paredes de vidro talvez iria esmurrá-las até que partissem. Isso provavelmente me traria cortes nas mãos... Mas isso não me incomodava... De certo modo nao parecia uma idéia tão ruim; pelo menos sentiria alguma coisa.


O que fazer quando não se sente nada? Quando tudo o que você tem é uma espécie de torpor interno que simplesmente lhe faz flutuar por horas fazendo coisas e sem nem se importar com elas? Sábios já disseram: ''Matar o tempo é suicídio". O que fazer...?

É preciso um tanto de vontade, e de coragem, para abrir a janela e lembrar do sol. Pode parecer ridículo, insosso. Mas muitos de nós passamos por isso. O motivo? Estamos acostumados. Assistimos os números vermelho-cintilantes mudarem minuto a minuto no relógio digital. Nós nos conformamos. A pior vergonha que se deveria ter é a de se conformar. Nos conformamos com as rotinas de que antes tínhamos medo, repulsa. Estamos aqui, simplesmente...Ente....ente...

Todos nós temos um espírito inspirado. Aquele, que já arquitetou mil maneiras de fugir de casa. Aquele que olhou para o mundo e disse: NÃO TE ENTENDO, MAS VOU ENTENDER PARA TE MUDAR! O grito às margens do rio Ipiranga morre em nós - esquecendoo contexto monarquico-hipócrita, claro. Morre entre os minutos, milésimos e segundos. A cada hora que desplugamos a mente. Morrem em nós as revoltas. Mas foram as revoltas que lapidaram o mundo.

Precisamos invocar as dríades, sílfides e musas. Precisamos pôr nosso sangue a ferver. Precisamos nos irritar, nos entristecer. 'Quem diz que nunca foi feliz mente. Porque se é infeliz, já esteve dos dois lados e reconhece a diferença'. Porque depois da raiva, das lágrimas e das revoltas vêm os sorrisos, a ternura e a conquista. Temos de parar de assistir os finais e enxergar o caminho. Sair do plano de fundo, sair das cortinas plissadas e subir no palco. Nada é previsível. Mas cada escolha que tomamos muda nosso futuro. Ou você vai deixar o destino escolher por você?

Então. Lembre-se daquilo pelo que você quer lutar. Escolha, ou faça uma bandeira, monte seu exército. Até "American idiot'' vale escutar. Desde que desperte algo dentro da sua mente. Pare de encarar o teto escuro às 3 da manhã, pegue o mp3, suba na cama, pule, se esbalde, duble, toque uma 'air guitar'. Escolha suas armas. Espadas, risos, raiva ou palavras. O mundo não é só meu. Nem deles. É nosso. E todos devemos opinar. Se não nos ouvirem... Apenas volte para o 4° parágrafo.



Plém-blém-blem-blem... CRASH.





A.G.

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